“Vida é alegria. Vida me da prazer.”

Como falado no post “Have you begging please”, aqui vai um resumo da palestra da Dra. Alexandrina Meleiro no III Curso de Psiquiatria Para Não Psiquiatras.

A palestrante: Dra. Alexandrina Meleiro

  • Doutora em Medicina – Departamento de Psiquiatria da FMUSP
  • Médica Psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP
  • Membro da Comissão de Atenção à Saúde Mental do Médico – ABP
  • Coordenadora da Comissão de Estudo e Prevenção de Suicídio – ABEPS
  • Conselho Científico da ABRATA

Logo na abertura, a Dra. apontou alguns números interessantes, sendo eles:

  •  29% dos anos perdidos por conta de alguma doença são causados por doenças mentais
  •  Hoje, por volta de 390 milhões de pessoas tem depressão
  •  Metade dessas pessoas não sabe que tem depressão

O principal motivo do desconhecimento da doença é por RECEITO e PRECONCEITO.

O receio e o preconceito tem duas fontes, sendo a primeira a própria pessoa que não busca ajuda de profissionais para que não tenha que “escutar” e “assumir” a doença para si mesmo. A segunda é por receito e preconceito dos próprios médicos. Há um grande receio em informar o paciente que ele tem depressão por conta da reação que pode ser gerada. Como tratar uma doença que atinge um número tão grande pessoas se há uma barreira gigante tanto vindo das pessoas que precisam do tratamento quanto dos que devem fornecer tal tratamento? Para a Dra. Alexandrina – e para muita gente – a resposta é simples, mas com um processo complexo: INFORMAÇÃO. Pois, nas palavras dela, “a informação combate o estigma”.

Seu segundo slide apresentava um título tanto quanto importante e agoniante: “O suicídio continua um assunto tabu”. Logo abaixo havia escrito “Presente na Bíblia: Saul, Sansão e Judas. Remonta à Grécia e à Roma antigas”. Foi mencionado também o grande número de suicídio por partes de líderes religiosos, pois esses são desincentivados e até mesmos “julgados” caso busque por uma ajuda médica para tratar de uma depressão. Assim, como ato limite de desespero, optam por tirar a própria vida. Mais uma vez, consequência do receito e do preconceito. A palestrante ainda destacou alguns pontos que mostram a complexidade do assunto com múltiplas faces, sendo eles:

  •  Filosóficos: o sentido da vida;
  •  Biológicos: neurotransmissores e o papel dos genes; –> Apontou a genética como um fator de grande peso na chamada “tendência suicida”.
  •  Sociais: contexto relacional amplo e restrito;
  •  Psíquicos: pulsões de vida e de morte, saúde mental;
  •  Jurídicos: quem tem o direito de escolher sobre a vida;
  •  Religiosos: a vida como presente divino;
  •  Culturais: é um assunto proibido.

Outro ponto que chama atenção é quanto ao aumento no número de suicídios no Brasil. A pesquisa contempla os 172 países que são analisados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) entre os anos 2002 e 2012.

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Sim, o Brasil está entre os 17% dos países analisados que apresentaram um aumento no número de suicídios. Somos o 8o país em número absoluto de suicídios no mundo (11.821 em 2012), somos líderes entre os países latino-americanos e apresentamos um aumento de 10,4% nas mortes por suicídio entre os anos de 2002 e 2012. E pior, a projeção é ainda mais assustadora. Ponto destacado: a projeção é de aumento para um fator que tem prevenção. Preocupante.

Ao analisar os dados mundiais, temos 804.000 mortes por suicídio em todo o mundo no ano de 2012. A projeção é de 1,5 MILHÕES de mortes apenas no ano de 2020. Na faixa etária entre 15 e 34 anos o suicídio é segunda maior causa de mortes.

A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio.

A cada 3 segundos uma pessoa tenta.

Tem muita gente tirando a própria vida enquanto você lê isso.

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Ainda de acordo com a OMS, a resposta para o questionamento “POR QUE É IMPORTANTE SABER SOBRE SUICÍDIO?” tem algumas respostas, entre elas:

  •  Cada suicídio tem um sério impacto entre pelo menos 5 e 10 pessoas;
  •  Nos últimos 45 anos o suicídio aumentou 60% no mundo;
  •  (mais uma vez) A faixa etária entre 15 e 34 anos tem o suicídio como a segunda principal causa de mortes.

Outro dado interessante é quanto à mortalidade analisada entre as causas médicas analisado por Thomas Insel, neurocientista, psiquiatra e diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH), em 2014.

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Ou seja, conclui-se que o número de mortes causadas por suicídio no período analisado ficou estabilizado. Mas, afinal, por que? Antes, vale dar uma olha num outro gráfico que mostra um estudo das principais causas de mortes no ano de 2008, de acordo com AFSP, 2011.

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De acordo com a palestrante, um grande problema no trabalho de prevenção e falta de disseminação de informações sobre o suicídio é a falta de investimento em estudos e pesquisas sobre o assunto. O maior motivador disso é o descaso do governo a respeito. Um fator limitador de tais estudos é a proibição da realização de estudos com pessoas consideradas com tendências suicidas, pois pode gerar a morte de fato. Para comprovar tal fato, basta comparar o gráfico acima apresentado com o a seguir, que mostra quantos dólares foram gastos em pesquisas médicas para cada morte registrada.

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Em 2014, a OMS divulgou uma pesquisa que apresenta os estados brasileiros e demais países com mais casos por 100 mil habitantes de suicídios.

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Em 2005 foi realizado um estudo das taxas de suicídio no Brasil separadas por gênero e idade. De forma geral, nota-se um grande número concentrado entre os idosos e também entre homens. Não há – neste estudo – dados quanto a orientação sexual pois, para tal estudo, considera-se apenas os dados do atestado de óbito.

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(taxa por 100.000)

Diante de tantos números, fica claro concluir que suicídio é PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA. Assim, ficam os questionamentos:

  •  Como avaliar o potencial suicida?
  •  Como reconhecer os indivíduos suscetíveis antecipadamente?
  •  Quando liberar o paciente pós-tentativa?

Como resposta, a palestrante apresentou: “não há testes ou critérios preditivo absoluto que estabeleça quem irá ou não irá cometer suicídio. É SINGULAR E PARTICULAR.

Com isso, tomo a liberdade de levantar um ponto que sempre insisto: não julgue os problemas dos outros. Não dê “pesos e notas” para os problemas de terceiros. Cada um sabe a dor e o peso que carrega. O que é pesado para mim pode ser uma pena para você e vice e versa. E, mais uma vez, nunca diga “mas ele tinha tudo, por que fez isso?”. Repito as palavras da Dra. Alexandrina: É SINGULAR E PARTICULAR. Por favor, respeite isso.

Os fatores de risco para o suicídio podem ser separados em duas grandes categorias, sendo a primeira “Fatores Fixos” e a segunda “Fatores Modificáveis Potencialmente”.

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Quando identificado mais de um fator, aumenta a chance da pessoa em questão tentar tirar a própria vida. Porém, não são critérios “necessários”, ou seja, é possível que uma pessoa não apresente nenhum de tais fatores e ainda vir a cometer suicídio, como também é possível que uma pessoa apresente um ou mais fatores e não tentar tirar a própria vida. Tais fatores são pontos identificados em comum em diversos casos analisados, mas não devem ser considerados como “regra”.

Vou deixar os demais dados para um próximo post para que não fique tão extenso.

Foram ainda abordados temas como:

  •  Dados de tentativas
  •  Quais são os métodos mais comuns de suicídio
  •  Ligação entre suicídio e distúrbio psiquiátrico
  •  Suicídios e doenças mentais
  •  Fatores associados à depressão
  •  Alterações patológicas da depressão
  •  Diagnóstico para risco de suicídio
  •  Situações de alerta
  •  Psicopatologia do comportamento suicida
  •  Jogo da baleia azul
  •  13 reasons why
  •  Suicídio entre os jovens
  •  Orientações para um melhor entendimento das causas
  •  O comportamento suicida
  •  Fatores protetores
  •  O papel da espiritualidade
  •  Prevenção por meio de estratégias
  •  Treinamento de equipe de saúde
  •  Ações para prevenção na comunidade

 

Música do título: Vida – Gilberto Gil

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2 comentários sobre ““Vida é alegria. Vida me da prazer.”

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